segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Alice no país das maravilhas

Eu adaptei essa passagem da Alice para a aula de roteiro do Flavinho quando estava na faculdade. O Marimbondo de Peruca é um trecho que o Lewis Caroll excluiu da versão original da história que eu achei bem interessante, chegamos a gravar esse roteiro mas infelismente não tenho em DVD.

Alice no País das Maravilhas - “O Marimbondo de Peruca”


CENA 1
Exterior dia, Alice estava prestes a saltar pelo riacho quando ouviu um suspiro que parecia vir pelo bosque.

ALICE(OLHANDO AFLITA PARA TRAS) Há alguém muito infeliz ali.

Alice vê algo parecido com um homem muito velho, seu rosto parecia com o de um marimbondo, estava sentado no chão, apoiado contra uma árvore, todo encolhido e tremendo como se sentisse muito frio.

ALICE: Não acho que posso ajuda-lo em coisa alguma...(VIRA-SE PARA SALTAR O RIACHO), mas só vou lhe perguntar qual é o problema...(DETENDO-SE QUASE NA BEIRADA), uma vez que eu tenha saltado, tudo vai mudar, e não vou poder mais ajudá-lo.

CENA 2

Alice se aproxima do Marimbondo

MARIMBONDO(MURMURANDO): Ai, meus velhos ossos, meus velhos ossos!

ALICE(FALA PARA SI): É reumatismo, me parece...(INCLINA-SE SOBRE ELE), não está com muitas dores, espero?

MARIMBONDO(DANDO OS OMBROS E VIRANDO O ROSTO PARA O OUTRO LADO): Ah, pobre de mim!

ALICE: Posso fazer alguma coisa pelo senhor? Não está muito exposto ao frio aqui?
MARIMBONDO(IRRITADO): Quanto embaraço! Com a breca, com a breca! Nunca houve uma criança como esta!

ALICE(BASTANTE OFENDIDA, SE AFASTA E PENSA): Talvez seja apenas a dor que o deixa rabugento...(SE APROXIMA DE NOVO). Não quer deixar que o ajude a passar para o outro lado? Vai estar protegido contra o vento frio ali.

MARIMBONDO(PEGA NO BRAÇO DE ALICE E DEIXA QUE ELA AJUDE A FAZER A VOLTA DA ARVORE, QUANDO SOSSEGOU DE NOVO DISSE COMO ANTES): Com a breca, com a breca! Não pode deixar uma pessoa em paz?

ALICE(PEGANDO UM JORNAL QUE ESTAVA JOGADO NO CHÃO):
Gostaria que eu lesse para o senhor um pedacinho disto?

MARIMBONDO(MAL-HUMORADO): Pode ler se estiver disposta. Ninguém está lhe impedindo, que eu saiba.

ALICE(SENTA AO SEU LADO, ABRE O JORNAL SOBRE OS JOELHOS E COMEÇA A LER): Últimas notícias. O grupo Explorador realizou outra expedição a Despensa e descobriu cinco novos torrões de açúcar branco, grandes e em excelentes condições. Ao retornar...

MARIMBONDO(INTERROMPENDO): Algum açúcar mascavo?

ALICE: Não. Não diz nada sobre mascavo.

MARIMBONDO(RESMUNGANDO): Nenhum açúcar mascavo! Belo grupo explorador!

ALICE(RETOMANDO): Ao retornar, descobriram um lago de melado. As margens do lago eram azuis e brancas, e pareciam louça. Enquanto experimentavam o melado, sofreram um triste acidente: dois membros do grupo foram engolfados....

MARIMBONDO(ZANGADO): Foram o quê?

ALICE: En-gol-fa-dos

MARIMBONDO: Não existe essa palavra na língua!

ALICE(TIMIDAMENTE): Mas está nesse jornal...

MARIMBONDO(IRRITADO, VIRANDO A CABEÇA): Vamos para por aqui!

ALICE(LARGANDO O JORNAL, EM UM TOM APAZIGADOR): receio que não esteja bem, não há alguma coisa que eu possa fazer pelo senhor?

MARIMBONDO(MAIS SUAVE): É tudo por causa da peruca

ALICE(SATISFEITA DE VER QUE ELE ESTAVE SE ACALMANDO): Por causa da peruca?

MARIMBONDO: Você seria rabugenta também, se tivesse uma peruca como a minha. Eles amola a gente. Chateia a gente. E então a gente ficamos tiririca. E com frio. E ficamos debaixo de uma árvore. E pegar um lenço amarelo. E amarrar na cara...como agora.

ALICE(COMOVIDA): Amarrar o rosto é muito bom para dor de dente.

MARIMBONDO: É muito bom para a presunção.

ALICE(SEM ENTENDER): É uma espécie de dor de dente?

MARIMBONDO(APÓS REFLETIR UM POUCO): Bem, não, é quando você fica de cabeça erguida – assim sem curvar o pescoço.

ALICE: O senhor quer dizer torcicolo?

MARIMBONDO: Esse é um nome criado agora. No meu tempo isso era chamado presunção. Presunção não é doença de maneira alguma...É sim, espere até sofrer dela, e vai ver. E quando você a pegar, pelo menos experimente usar um lenço amarelo enrolado na cara. Vai curá-la num instante!

Enquanto o marimbondo fala seu lenço desmorona e Alice olha para sua peruca com grande surpresa. Era um amarelo vivo, como o lenço e estava toda emaranhada e despencando por todos os lados como um monte de algas marinhas.

ALICE: poderia deixar sua peruca muito mais arrumada, se pelo menos tentasse adoçar esse cabelo.

MARIMBONDO(COM INTERESSE): Ora você é uma abelha, não é? E você tem um favo. Muito mel?

ALICE: Não estou falando de mel, mas de pente. É para pentear seu cabelo....sua peruca está tão desgrenhada, sabe.

MARIMBONDO:Vou lhe contar como passei a usá-la. Quando era jovem, sabe, os anéis dos meus cabelos espiralavam

ALICE(COM POLIDEZ): O senhor se importaria de contá-la em versos?

MARIMBONDO: Não é o que eu estou acostumado a fazer, de todo modo vou tentar, espere um pouquinho(SILÊNCIO POR ALGUNS INSTANTES)

CENA 3
O Marimbondo recita o poema e Alice observa

MARIMBONDO:

Quando eu era jovem, meus anéis ondulavam
E se encaracolavam e se encrespavam
Então me diziam: “Raspe esta juba indomável
E use uma peruca amarela apresentável”

Mas quando finalmente segui esse preceito,
E os que me cercavam perceberam o efeito,
Disseram que não, que aquilo não lhes agradava
Nem de longe tanto como antes se esperava.

Afirmaram que por certo não me caía bem,
Que me tornava feio, feio como ninguém:
Mas, diga-me, que podia eu fazer agora?
Meus cachos aviam para sempre ido embora.

E assim, hoje, que estou velho e cansado,
Sem mais cabelo, só tendo passado,
Arrancaram de mim a peruca, zombando:
“Como pode usar este objeto nefando?”

E mais, sempre que mostro um pouco,
Eles me vaiam, apupam e gritam “Porco!”
E assim foi que caí numa enorme esparrela,
Tudo por causa de uma peruca amarela.

ALICE: Sinto muito pelo senhor. E acho que se sua peruca se ajustasse um pouco melhor não iriam caçoar tanto.

MARIMBONDO(MURMURANDO): A sua peruca se ajusta muito bem(COM ADMIRAÇÃO), é por causa do formato da sua cabeça. Mas seus maxilares não são bem conformados...eu diria que você não consegue morder bem, não é?

ALICE(RINDO): consigo morder qualquer coisa que queira.

MARIMBONDO: Não com uma boca assim tão pequena. Se estivesse lutando, ora...seria capaz de agarrar o outro pela nuca?

ALICE: Acho que não

MARIMBONDO: Bem, é porque seus maxilares são curtos demais. (TIRANDO A PERUCA E ESTICANDO COM UMA DAS PATAS A ALICE QUE RECUA)Mas o cocuruto da sua cabeça é bem feito e redondo. Depois, seus olhos...estão na frente demais, sem duvida. Dá no mesmo ter um ou dois, se é para se tê-los tão perto um do outro...

ALICE(INCOMODADA COM TANTOS COMENTÁRIOS PESSOAIS): Penso que devo ir embora agora. Até logo.

MARIMBONDO: Até logo, e obrigado.

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