segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Espelho

Esse roteiro, também escrito para a aula do Flavinho, é baseado no conto O Espelho que está nesse livro da Virginia Woolf

O Espelho

CENA 1

Interior da Inglaterra, final do século XIX, exterior dia, em uma ensolarada tarde de verão take de uma grande e luxuosa propriedade, com uma mansão, jardins floridos e fontes. Corta.

CENA 2

Sala de estar, ampla e confortável , decorada com extremo bom gosto e requinte, com tapetes rústicos, lareira de pedra, estantes e armários de laca. A sala parece leve e arejada, a porta que leva para o jardim está aberta, porém há algo de misterioso e obscuro, muito sutil, algo que não é possível perceber a primeira vista. Acompanhamos a cena através de um grande espelho que mostra uma porta que dá para um grande terraço que vai para o jardim e as estufas.

NARRADOR(ESPELHO-OFF): Ninguém deveria deixar espelhos pendurados em casa, assim como não se devem deixar abertos talões de cheque ou cartas que confessam algum crime horroroso.....

(TOCA CAMPAINHA)

CENA 3

Take da porta que leva aos jardins, uma mulher se aproxima, é Isabella Thyson, dona da casa, trajando um vestido leve de verão e um chapéu, não podemos ver direito seu rosto, ela carrega uma cesta com flores que acabou de colher, entra na sala, coloca a cesta em cima da mesa e tira as luvas de jardinagem

ISABELLA(PARA SI): Deve ser o carteiro.....(ATRAVESSA A SALA)
ESPELHO: Ela Isabella Thyson, era rica, era distinta,(ISABELA VOLTA E PARA NA PORTA, OLHANDO PARA O JARDIM), tinha muitos amigos, viajava...assim pois, ali em pé, ela ficou pensando...

CENA 4

Câmera se aproxima da mesa de jantar, Isabela vira-se, mas a câmera não mostra seu rosto, ela olha as cartas e começa a organizá-las sobre a mesa distribui todas ordenadamente depois as observa rondando a mesa, em seguida uma a uma, ela abre, lê e rasga o envelope

ESPELHO: Sem formular nenhuma idéia precisa – porque era uma dessas pessoas cujas mentes tem pensamentos enredados em nuvens de silêncio, todo o seu ser era banhado pela nuvem de algum conhecimento profundo, algum lamento não expresso seu modo mais profundo de ser é que se queria captar e converter em palavras, o que se chama de felicidade ou infelicidade era preciso imaginar...ela se via cheia de gavetas trancadas, recheadas de cartas como seus armários.....

CENA 5

Parede com os armários. Isabella abre todas as portas, em seu interior os armários são organizados, tudo ocupa o seu devido lugar, há muitas gavetas e nas prateleiras há livros, Isabella abre algumas das gavetas, tira maços de cartas que estão amarrados em barbante junto a um ramo de lavanda, ela coloca sobre a mesa papel de carta, tinteiro e pena, depois coloca dentro de uma das gavetas o maço de cartas que acabou de fazer.

ESPELHO: ...alguém que tivesse a audácia de abrir uma gaveta para ler suas cartas encontraria vestígios de agitação sem conta, de compromissos a manter, de exprobrações por o não ter feito, longas cartas de intimidade e afeição, cartas violentas de ciúme e censura, terríveis palavras finais de despedida – pois nenhum daqueles encontros e combinações de encontros levara a nada.

CENA 6

Isabela senta e prepara-se para responder as correspondências, tenta algumas vezes e não consegue, levanta subitamente de frente para espelho, causando-lhe um sobressalto, revela-se uma mulher com as marcas do tempo, por volta dos seus 50 anos, solitária, close em seu rosto, close nos olhos que estão com uma expressão duvidosa, mistura de ternura e tédio.

ESPELHO: Que espetáculo fascinante! Isabela era completamente vazia, não tinha idéias, não tinha amigos, não se importava com ninguém. Via-se nisso que ela ali se plantava anguloso e idosa, enrugada e veiada, com seu nariz empinado e estrias pelo pescoço. Ninguém deveria deixar espelhos pendurados dentro de casa.

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